Resumindo: o que achaste?

segunda-feira, setembro 20, 2010

Um, dois, três, quatro.... cinco.


Não é por acaso que dizem que quanto mais alto sonhamos, maior é a queda.
Um deslize, uma pequena falha na concentração e o chão torna-se transparente e fino… deixa-nos cair, em câmara lenta, aos poucos desgastando o cérebro, o corpo, dando ao sangue um sabor amargo e seco... E já não nos restam forças para perceber que fomos nós que demos um passo em falso - os culpados somos nós. Hoje, pondo de parte a minha passividade e o meu sarcasmo melancólico, confesso que não te culpo por nada. Por vezes imagino-me no teu lugar…somos mais parecidas do que pensas. É difícil libertares-te das memórias, até porque eu sou uma memória física que está sempre ao teu lado, estas limitada…Sabes bem que odeio quando temos pena de nós próprias. Ou se calhar até não sabes…Nunca falamos da essência. Mas sei que te faz falta a tua independência, a altura em que vias o mundo todo diante os teus pés, perplexo, sorrindo para ti. Mas não me podes culpar, eu sou ele mas também sou tu… E não sou nenhum de vós. Hoje concordo com o silêncio… Acalmo a revolta e não te culpo por nada.

quinta-feira, setembro 02, 2010

O "para sempre" gosta de morrer.



Vestiu as calças escuras, botas baixas, uma t-shirt branca e uma camisola cinzenta, dois tamanhos acima do necessário…Não em nome da moda – desta maneira sentia-se confortável e quente. Estava a chover, aliás, até sem a chuva o frio não a deixava.
Penteou o cabelo preto azulado, atirou a escova contra a parede, pintou os olhos com o habitual lápis preto, com que destacando o dramatismo das sombras/erros que a atiçavam por dentro.
O últimos suspiro antes de sair, fechou a porta, entrou para o elevador… pois sim, não vale a pena fazer tempo. Sai e olha – ele está aí, mas sente que dificilmente aí permanece… Um cigarro fuma, que o aquece. E ele sente! Oh, sim…Há muito que tudo se tornou claro. Tudo corria facilmente e voltou, a puta! Não atendia o telefone, escondia-se atrás das SMS… Provavelmente com medo que a voz se repartisse em pedaços, sob o peso de emoções fugitivas. De quê? De dor?! Ou talvez de perda?! Ahahaha… De culpa e de pena… O que interessa?! Um segundo, e descobrirás por ti.
E aceitando cada palavra do seu pensamento, deitou fora o alimento dos seus nervos e levantou os olhos gelados… “-E então?”, “-Olá…”
E calando-lhe a boca com os olhos, abraçou-o com que ansiando pela Asfixia… Pôs a cara nos ombros dele, inspirou o cheiro áspero do casaco dele… Pois… Quais palavras? Ele nem sequer mexeu os braços para a envolver pela última vez num abraço, beijo... Passividade explicou-lhe tudo e definitivamente fechou o tema “Talvez me perdoe, talvez volte para mim, talvez esqueça tudo?” Isso não vai acontecer. O “para sempre” gosta de morrer.

domingo, julho 18, 2010

Monólogo.

Hum...Sim. Todos os fins têm um princípio... Tudo começa de algo pequeno... Uma simpatia num piscar de olhos, num estalar de dedos, num jogo entre os hormonas e a psicologia cresce para algo estupidamente romântico, algo que...
Fala-se muito sobre isso. Definições, citações, memórias e mágoas. Na verdade nem percebo bem em que momento é que uma porra de um beijo passa a significar muito mais.
Qual beijo! Até um olhar passou a ser desastroso, venenoso, arrepiador, doce, perturbante...Sempre os mesmos adjectivos! Ah e belo! Belo?! Como eu odeio isto tudo... Histeria que nunca mais nos abandona... As noites, reflexões, excesso de asneiras, conversas com as paredes, arrependimentos - ultra-romantismo. E saber que já nada vai mudar porque as coisas são assim...e fiquem desde já a saber que estou bastante passivo enquanto à mudança...
Ah, sim... O princípio.
O princípio foi simples. Ao contrário da teia que foi o final. Um "olá", "tudo bem?", "sim"; umas fotos..."manda-mas", "claro...", "o meu e-mail...", "peço ao Ricardo"...sorriso, olhar... Talvez a solidão e a procura de companhia... e drama. Conversas pela noite fora, uns silêncios - nada para dizer, um encontro não chega... "Queres dar uma volta?", "Se não tiver planos"... E não teve. Que pena.

domingo, julho 11, 2010

controvérsia


Asfalto quente, concentração de cheiro, nuvens intensas, grosseiras, cinzas. Tudo em volta parado, e só eles, em volta do corpo como borboletas em volta do fogo. Fotografar ali, tentar perceber as razões, sugestões improváveis, curiosidade estranguladora. O corpo virado de barriga para baixo, cabelo preto, comprido, ondulado disperso pelo chão de maneira a não tapar a “obra de arte”. Uma asa de anjo tatuada, outra recortada. Por mão de quem? Porquê?
Mmm… Se conseguissem ouvi-lo. Mas é impossível. Ninguém lê a mente de ninguém, ninguém chega sequer a descobrir o que verdadeiramente somos, quais das facetas não nos é penosa. Mas olhem no canto, o rapaz com um sorriso e desprezo estampado. Tatuagens pelo corpo, algo estranho tatuado no pescoço pálido e tenso. Dedos longos, estreitos e sensíveis… Hum… Talvez um bocado manipuladores. Artísticos. Dão asas, criam reproduções andantes, preenchem os espaços em branco. Dias maus, linhas tortas por um bocado de falta de experiência; dias bons, linhas perfeitas – inspiração. Ele deu-lhe as asas, mas o que pode fazer um artista quando a sua obra de arte enjoa-o pela controvérsia, quando dá falsas expectativas, quando não significa nada – ilusão?
Repara, o sorriso do jovem adulto desaparece. Querido, estás numa esquina fedorenta a lamentares o feito: o antes, quando ela entrou dentro da loja “Hardcore” onde trabalhas e pediu que lhe fizesses duas asas de anjo atrás das costas? Ou o depois, quando ela se riu na tua cara, divertida, fria, consciente? Ou, e ainda, o depois, quando te virou as costas e tu arrancaste-lhe a asa? De qualquer maneira, deixa estar… Já é tarde demais para mudares alguma coisa. Mas olha, lembra-te que não há humanos que mereçam ter asas. É por isso que os anjos não existem.